Sobre a saúde mental no trabalho: “Nós temos que mostrar aos nossos colaboradores que estamos perto deles”.
O cuidado com a saúde mental no trabalho sempre foi importante, porém pouco se falava no assunto. Atualmente, mesmo com muitas barreiras, o debate acontece de forma mais aberta e uma prova disso é a campanha de Janeiro Branco, que visa conscientizar as pessoas sobre a promoção do bem-estar mental.
Mas como as empresas lidam com isso? Não faltam exemplos de profissionais estressados, cansados e que desenvolvem transtornos mentais, como depressão, ansiedade e burnout.
Aproveitando que estamos em Janeiro, o “Fala, Docway!” desse mês entrevista Keyti Possi, gerente de Gente & Gestão da Docway, que vai nos ajudar a entender mais sobre o assunto e mostrar como as equipes de RH ou de Gente & Gestão podem contribuir para um ambiente de trabalho saudável e promover a saúde mental dos colaboradores.
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1. Sabemos que a pandemia de COVID-19 causou mudanças no modelo de trabalho de muitas empresas, que passaram a atuar de forma remota. Como oferecer suporte à saúde mental aos colaboradores que trabalham no modelo home office?
É preciso ter uma proximidade com nossos colaboradores. Quando falo de proximidade, é sobre o gestor estar junto com seu time. Você só consegue captar algo que esteja acontecendo emocionalmente com uma pessoa quando você cria um vínculo, não pessoal, mas profissional, que te dá margem para perceber o comportamento da pessoa, engajamento e motivação. Então, a primeira coisa a fazer como empresa é trabalhar com os gestores para que eles tenham essa maturidade e estejam próximos do seu time.
2. As mudanças causadas pela pandemia afetaram a saúde mental de muitas pessoas. A equipe de Gente e Gestão leva em conta algum fator de saúde mental na hora da contratação? Como funciona a parceria entre G&G e Saúde Ocupacional?
Nós não levamos em conta aspectos da saúde mental do candidato. A pessoa pode estar passando por um momento delicado na vida pessoal dela com relação à parte psicológica, mas isso não significa que ela não vá ser um bom profissional ou entregar bons resultados. Ainda não há uma saúde ocupacional de fato efetiva dentro das empresas que consiga nos dar recursos para trabalhar com planos de ação para essa situação. O que precisamos ter nas empresas são pessoas preparadas para apoiar, conduzir e orientar.
3. Quais iniciativas as empresas podem adotar para conscientizar os colaboradores sobre a importância da saúde mental no trabalho e qual o papel de G&G nessas ações?
É preciso mostrar aos colaboradores que estamos perto deles. Então, como empresa, precisamos entender o estado emocional de cada um, o momento que ele está vivendo, se ele está bem dentro de casa ou se está bem com a família. O que temos que fazer como área de Gente e Gestão é disponibilizar informações. Precisamos ter essa preocupação com os colaboradores: o quanto você está feliz no seu trabalho, quanto isso está te gerando satisfação profissional? E dentro de casa, está tudo bem?
4. Como Gerente de Gente e Gestão, qual a sua visão sobre colaboradores ajudarem colegas de trabalho que estão com problemas relacionados à saúde mental a buscarem ajuda profissional? É possível ser feita alguma orientação para as equipes neste sentido?
Sim, e deve ser feito. Acredito que todo mundo tenha que ter a capacidade de escutar. E esse ouvinte tem que levar o caso, de forma bem discreta, para a área de Gente e Gestão ou para a área de Psicologia. Então, a nossa instrução para qualquer problema relacionado à saúde mental é: fale com a área de Gente e Gestão ou Psicologia. Se conseguirmos tomar ações rápidas, nós teremos grandes chances de reverter o cenário. Se demorarmos para tomar qualquer tipo de ação, a situação pode se agravar. Portanto, o segredo é saber ouvir, ser discreto e informar uma pessoa de apoio que possa oferecer ajuda profissional.
5. Com a chegada de um novo ano, quais os desafios da área de Gente & Gestão em 2023 com relação à promoção da saúde mental? E como um profissional da área pode se capacitar para enfrentar desafios como esses?
Os desafios são muitos. Essa nova geração de profissionais visa muito a qualidade de vida e não se prendem às empresas por pequenas coisas. As empresas têm que ser direcionadas para o bem-estar dessas pessoas. 2023 veio para mudar o conceito de que “funcionário é só um número” ou que “funcionário tem suas obrigações e que se não entregar ele não está dentro do desempenho esperado pela empresa”. É preciso oferecer a sensação de pertencimento e um ambiente saudável, senão os profissionais não ficam. Ou seja, se não tivermos um bom ambiente e uma boa recompensa (não só financeira, mas de feedback, reconhecimento e motivação) não será possível reter esses profissionais.
6. O que mudou depois da inclusão do Burnout como doença ocupacional nas empresas?
Bem, o Burnout já existe há muito tempo, ele só foi evidenciado. Mas o que eu acho que mudou muito é que agora você pode diagnosticar com mais rapidez. Um exemplo: o Autismo. Ninguém sabia o que era. Hoje em dia todo mundo conhece, há mais profundidade. Tanto é que, há dez anos, você não conhecia quase ninguém diagnosticado com autismo. Atualmente, conhecemos alguém que tenha um autismo leve ou ouve falar de alguém que tem. Com o burnout é um pouco isso, com a evolução das pesquisas e estudos, trouxemos mais ferramentas para identificá-lo e o que precisamos fazer é ser ágeis e ter um plano de ação.
7. Na sua visão, a Síndrome de Burnout pode ser evitada pelas empresas? O que os gestores podem fazer para promover um ambiente de trabalho saudável e produtivo?
Depende. Se o gestor for rápido na percepção ,é possível evitar. Se houver proximidade com a equipe e tiver um relacionamento, ele consegue evitar. Agora, se for um gestor ausente, distante ou não tiver essa alma de líder, ele não evita. Nesse cenário, a pessoa (com sintomas de burnout) entra nessa bolha e fica bem difícil de reverter. Não é impossível, mas é mais difícil. Então, a grande sacada é como os gestores estão se preparando para isso, pois eles são as pessoas mais próximas dos colaboradores. A área de Gente e Gestão apoia, mas não está todos os dias com todo mundo.
8. As redes sociais estão presentes no nosso cotidiano. O LinkedIn, apesar de ser uma rede social profissional, pode impactar a saúde mental dos colaboradores?
Com certeza. Acho que a rede social é ótima e péssima ao mesmo tempo, porque a pessoa coloca a visão dela e o seu ponto de vista sobre o que é certo ou errado. Esse é o mal da rede social. Assim como no Instagram, que a pessoa posta fotos de viagem, toda linda e perfeita e que diz “Bom dia! O dia de hoje está maravilhoso!” e quando você vai falar com ela: “Gente, que ruim que está o dia hoje!”. E o LinkedIn virou um pouco isso. Era um canal legal para postar artigos, inovações, trocar feedbacks e experiências, mas hoje virou um “Instagram Corporativo”. Porém, é uma ótima ferramenta para buscar profissionais e fazer conexões.
9. Saúde mental abalada é coisa séria e pode trazer consequências negativas não só para o colaborador, como também para a empresa. Quais são os principais prejuízos para as empresas que não oferecem suporte adequado à saúde mental para as equipes?
Existem os riscos de passivo, que são ações judiciais, nas quais a pessoa pode alegar que a empresa não teve a percepção daquele problema. Por exemplo: uma pessoa que está com burnout e continua recebendo muita demanda de trabalho, com o gestor pressionando e cobrando ela constantemente. Além disso, tem o risco de demissão em massa de pessoas-chave dentro da empresa. Pesquisas apontam que a maioria das pessoas que tem burnout são aquelas que têm um nível de pressão muito grande. Então, os riscos são a perda de profissionais fundamentais, a demissão ou afastamento em massa e tudo isso convertido em um resultado financeiro, porque quando algum colaborador sai por esse diagnóstico nós temos um impacto de, no mínimo, dez vezes o valor da remuneração dela. Sem contar o impacto cultural e o clima na empresa.
10. Se você pudesse mandar uma mensagem para todos os gestores do Brasil sobre a saúde mental dos seus colaboradores, o que você diria?
Tem que ser parceiro. Tem que ter uma relação sólida e entender o perfil de cada um. Quando eu digo perfil, não é só o profissional, mas o perfil comportamental. Entender cada um para ter empatia, porque senão as pessoas não se sentem valorizadas. Você tem que fazer do seu time um grande case de sucesso, porque quando se trabalha para que a sua equipe seja a protagonista da história, você tem o sucesso também.
O cuidado com a saúde mental tem que ser prioridade para todos nós.
Conversar, interagir, aconselhar e ter empatia fazem parte desse esforço.
Vamos, juntos, trabalhar para proporcionar um ambiente mentalmente mais saudável.
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Até a próxima!