Adriana sobre o equilíbrio da saúde: “Temos que começar a pensar na nossa saúde como um todo, não só quando a gente tiver uma dor”

Em abril celebramos o Dia Mundial da Saúde. A data procura conscientizar as pessoas sobre a importância de adotar hábitos saudáveis para ter uma melhor qualidade de vida.
Mas claro, saúde se faz todos os dias. Se alimentar de forma equilibrada, praticar exercícios físicos regularmente e cuidar da saúde mental indo ao psicólogo ou distraindo a mente com hobbies são coisas fundamentais para a preservação de uma saúde completa.
A convidada do mês para esse ‘Fala, Docway’, é Adriana Cangussu, Coordenadora de Enfermagem na Docway. Ela nos conta um pouco mais sobre a importância de manter o equilíbrio da saúde do corpo e mente e compartilha conosco um pouco de sua experiência.
Então, pegue um cafezinho, se ajeite e aproveite a leitura! ☕
“Mente sã, corpo são”. Muitos de nós já ouvimos essa frase alguma vez na vida. Ela nos alerta para a importância de cuidarmos de nossa saúde integralmente. Como você recomendaria a aplicação desse conceito na rotina?
Hoje é necessário que as pessoas pensem em saúde integral. Ou seja, não apenas na saúde física ou mental. Passamos por uma pandemia que causou muitas perdas de familiares e amigos próximos, isso fez com que a população começasse a precisar e pensar mais em saúde mental. Eu vejo que as pessoas pensavam muito às vezes na saúde física e esqueciam um pouco da Saúde Mental e vejo que está bem a tona nestes últimos anos.
Há muitas pessoas que vendem um conceito errado do que é saúde – principalmente nas redes sociais. Discursos como “emagreça em pouco tempo” ou “aceitarem seus corpos” mesmo que isso signifique ignorar a própria saúde. Como conscientizar a população para buscar um equilíbrio ao invés dos extremos?
As pessoas veem muito um padrão de beleza já estabelecido pela sociedade e acabam esquecendo o real tema “saúde”. Conseguimos ver uma população totalmente focada em padrões de beleza e acabam não fazendo de forma correta ou buscando o caminho certo, que seria o do acompanhamento com um médico especialista ou uma ajuda de um psicólogo, um psiquiatra. Isso de emagrecer em pouco tempo não é saudável. Muitas vezes, as pessoas ficam frustradas, porque não conseguem emagrecer e acabam não emagrecendo com saúde e emagrecer com saúde não é tão fácil assim. Requer muito esforço e um acompanhamento médico bem assistido.
Já que falamos em redes sociais na pergunta anterior, vale uma reflexão: qual o impacto delas na forma como as pessoas se veem, tanto com relação a seus corpos, quanto à saúde mental? E o que fazer para diminuir esse impacto?
Realmente o impacto é muito grande, visto que hoje, nas mídias sociais, na maioria das vezes, só expõe um padrão de beleza. “Você tem que seguir esse padrão.” Meio que obriga a população a seguir aquele padrão: pessoas magras e altas. Devemos começar a fazer coisas diferentes, pensar mais em saúde e qualidade de vida, não somente na estética, acredito que esse é o ponto.
Por outro lado, também presenciamos o discurso de indústrias farmacêuticas com remédios que prometem resultados rápidos na perda de peso ou no ganho de massa muscular. Você acredita que essas publicidades têm um impacto negativo na saúde das pessoas?
Sim, ela tem um impacto muito negativo e até criam esperanças, sendo que nem sempre estão vinculadas à forma correta de perder peso. Isso não está vinculado à promoção de saúde, pois encher um corpo de remédio sem uma alimentação controlada, a prática de exercícios associados, nunca trará resultados bons a longo prazo.

Vivemos em um momento de nossa sociedade em que existe uma relação implícita que, praticar atividades físicas serve somente para ter um corpo “sarado”. Como poderíamos normalizar a prática exercício físico apenas como benefício à saúde, independente do tipo corporal de quem o pratica?
Hoje a prática de exercício tem sim, uma relação direta a ter um corpo sarado. Porém, isso vai muito além do que “só um corpo sarado”, é o estímulo capaz de manter o corpo em movimento. Hoje, nós temos muito sedentarismo, que é a maior causa da obesidade. Ela está comprometendo significativamente a saúde da população com o surgimento de doenças crônicas, como a hipertensão colesterol diabetes. Então eu acredito que a pessoa deveria praticar o exercício físico focado em se manter saudável, não só no corpo físico sarado.
Para além de todos fatores ligados ao tipo corporal, existe uma necessidade: alimentar-se bem e nutrir o corpo. Porém, esse discurso ainda é associado à busca pela magreza ou aos padrões de beleza impostos pela sociedade. Como trabalhar para conscientizar a importância de termos uma alimentação saudável?
Hoje a busca pelo corpo perfeito acaba fazendo as pessoas fazerem coisas fora do normal, para chegar a esse padrão exigido pela sociedade. Porém, acabam se esquecendo de manter aquele cuidado entre o equilíbrio: corpo, mente e saúde. Devemos sempre colocar em pauta que não adianta ter um corpo magro e não ter saúde. Então, a gente precisa garantir que esses resultados de todo o esforço vão ser a longo prazo e não ter um efeito platô. A gente tem ali um foco e acaba frustrando, tem um efeito platô e volta para a mesma coisa.
Sofremos diversas pressões diariamente para sermos sempre produtivos, o que em alguns casos, nos fazem sentir culpados por descansar, não ir para a academia ou comer uma pizza num fim de semana. Por que você acredita que temos esse sentimento e como buscar uma “não culpa” e o equilíbrio da rotina?
Eu acho que a sensação de ter esse sentimento se dá muito pela nossa rotina, porém a gente tem que conscientização de que tudo na vida precisa de um equilíbrio. Precisamos ter aquele momento fora do trabalho de descanso, de comer um lanche ou até mesmo de se recusar a ir à academia. A gente precisa dar espaço ao nosso corpo. Eu acredito que, acima de tudo, garantir, mesmo com a rotina puxada, que estou dando sempre o meu melhor. Então, acho que é necessário se conscientizar com isso. Eu estou dando o meu melhor, mas também preciso desse meu tempo, eu preciso descansar porque senão eu não vou conseguir aguentar a minha rotina e não se culpar por tirar no momento para descansar ou comer um lanche ou falar: “Pô, hoje eu não vou para academia vou tirar esse momento para mim”. E não ir lá e comer um lanche e depois ficar se culpando: “Ah, eu comi o lanche e não fui para academia”. Acho que a pessoa precisa se permitir e se conscientizar disso.
Para casos em que procedimentos cirúrgicos são necessários, como a cirurgia de redução de estômago, o acompanhamento médico é fundamental. Durante esse processo, há o apoio de outros profissionais, como psicólogos. E qual a importância deles para o bem-estar do paciente no pré e pós cirúrgico?
Eu falo muito como experiência própria. Quando realizamos uma cirurgia que causa um impacto tão grande no nosso corpo, é indispensável o acompanhamento do psicólogo. Eu preciso estar acompanhada com um profissional desse, pois a gente precisa ir aceitando e adequando todas as mudanças do nosso corpo, pois quando se tem obesidade, temos uma compulsão alimentar. Então a gente acaba trocando esse tipo de compulsão por não poder comer através do procedimento cirúrgico que foi realizado, e acaba se frustrando e tendo muitos problemas. Coloco muito isso, principalmente na fase inicial de uma redução do estômago. A gente está limitada comer certos alimentos e uma certa quantidade de comida então se eu não tenho ali um acompanhamento psicológico, até mesmo psiquiátrico ou até mesmo um acompanhamento de uma equipe multidisciplinar que é um gastro, um endócrino, eu acabo me frustrando em algumas situações não tendo um controle, porque o ser humano ele tem uma compulsão e ele substitui a compulsão por uma outra coisa.
Se você era compulsivo em comer depois de uma redução de estômago que é uma cirurgia bariátrica, você pode substituir essa compulsão por gastar e comprar ou por compulsão por doce ou qualquer outro tipo de alimento. Você precisa se controlar e ter um acompanhamento psicológico muito bom. Inclusive quando a gente faz essa cirurgia, uma redução de estômago que foi o que eu fiz em abril do ano passado, é uma das recomendações médicas é ter um laudo para fazer a cirurgia, ou seja, você tem que ter um acompanhamento pré e um acompanhamento pós, porque o seu corpo está mudando. Então você vai precisar estar sendo acompanhado para ver se você não está tendo algum distúrbio ou alguma coisa que o psicólogo poderia te ajudar. Isso é muito importante, eu super indico para todas as pessoas que eu conheço que fizeram bariátrica ou estão pensando “Não parem de passar com psicólogo, ele é essencial em todo o tratamento.”
Por fim gostaríamos de saber qual mensagem você passaria para as pessoas que buscam cuidar de sua saúde integralmente, ou seja, corpo e mente?
Primeiro de tudo a pessoa começar a se aceitar. Entender que a mudança não é apenas estética e sim para a saúde. Precisamos focar em ter uma saúde melhor, em ter hábitos de vidas mais saudáveis, ter acompanhamento de saúde é de extrema necessidade. Precisamos criar o hábito de pensar mais em nossa saúde tanto física quanto mental.
Temos que começar a pensar na nossa saúde como um todo, não só quando a gente tiver uma dor “Ah, eu vou procurar no médico.” Temos que ter uma rotina de falar: “Eu vou usar um mês do ano para fazer o meu check-up. Vou ver como está a minha saúde” e atualmente, “Ah eu quero comer um lanche” não coma todos os dias. Tire um dia da semana para você comer a sua besteira. Não tem condições de praticar exercício físico? Não precisa sair de casa para fazer exercício físico, você pode andar pela casa, você pode pegar um pacote de arroz e fazer um levantamento, fazer agachamento dentro de casa, então têm muitas coisas que dá para fazer dentro de casa.

Cuidar da saúde vai muito além de buscar um padrão de beleza imposto pela sociedade.
É estar bem consigo mesmo, é aceitar o corpo e as mudanças que o acompanham.
Só é possível ter saúde quando cuidamos dela completamente, física e mentalmente.
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