“A palavra ‘Diversidade’ traz consigo a necessidade de ouvir, compreender e celebrar as diferentes realidades.“
Falar sobre diversidade nas empresas é muito mais do que pintar o logotipo com as cores do arco-íris. Diversidade é muito além e começa com o reconhecimento de que ações são necessárias para promovê-la.
Mais do que isso, é preciso entender que quando se fala de diversidade, estamos falando da celebração da diferença humana que é muito mais ampla do que muitas vezes imaginamos. Talvez a palavra que melhor define esse tema seja: ouvir. O convidado deste mês nos revela ainda mais a importância dessa pequena palavra: Décio Stenico, Desenvolvedor Front End na Docway, pede sua atenção para a entrevista que vem a seguir.
Pegue um cafezinho, se ajeite e aproveite a leitura! ☕
O dicionário define “diversidade” como “Qualidade daquilo que é diverso, diferença, dessemelhança, variação, variedade”. Muitas vezes há uma confusão sobre a compreensão do que é a diversidade, pois entende-se que é sobre um grupo ou outro e não é bem assim. Então, você poderia nos dizer, na sua visão, o que é diversidade?
Depende muito do contexto, mas de forma geral, acho que sempre a palavra “Diversidade” traz consigo a necessidade de ouvir, compreender e celebrar as diferentes realidades.
Sabemos que a pauta de diversidade e inclusão é cada vez mais debatida em todos os níveis da sociedade, seja no setor público ou privado. Tendo isso em mente, qual foi o principal motivo que levou a empresa a criar o projeto Diversifica?
Justamente não ficar para trás nesses debates e ações, principalmente sabendo que a nossa missão é cuidar de pessoas, e não tem como prover cuidado sem ouvir e considerar tudo aquilo que nos constrói.
Infelizmente, muitos preconceitos que presenciamos em nossa sociedade contra grupos minorizados, acontecem por mal caráter, pensamentos automáticos (ou estruturais) ou por falta de conhecimento. Há uma frase do filósofo Italiano Voltaire que diz que “Preconceito é opinião sem conhecimento”. Sendo assim, como você espera mudar esse cenário com um projeto como o Diversifica?
Antes de mais nada, é importante ter uma visão realista sobre esse desafio, infelizmente não há como acabar de vez com o preconceito, até porque o que entendemos como preconceito se atualiza e evolui constantemente.
O ponto de um projeto como o Diversifica é justamente reconhecer essa realidade, da qual o preconceito é uma coisa fora do nosso controle no momento da sociedade atual, e tentar encontrar, a partir disso, maneiras de melhorar nossas relações pessoais e processos empresariais.
Podemos utilizar ferramentas no nosso dia a dia para nos fazer mais conscientes de coisas tão estruturadas e estruturantes como o machismo, por exemplo. Para este caso, uma das ferramentas nossas pode ser a linguagem inclusiva (que é, lembrando, a utilização do português a fim de evitar termos e expressões que podem ser preconceituosas, e marcação de gênero), então podemos utilizar da linguagem inclusiva a fim de nos fazer pensar/questionar sobre o que (re)produzimos e, ao mesmo tempo, estimular com que outras pessoas façam o mesmo.
Sabemos que a promoção de mais diversidade e a conquista de espaço por grupos minorizados não é uma tarefa fácil. Mas com a sua experiência, como você acredita que a Docway pode superar esse desafio e se tornar uma empresa mais diversa?
Eu acredito que do momento que criamos o Diversifica nós já superamos o principal desafio, que é reconhecer que precisamos fazer algo sobre.
O segundo passo para ir se tornando cada vez mais diversa, é trabalhar (todos os dias) para ser mais inclusiva e com mais senso de equidade.
E o que a Docway precisa para ser mais inclusiva ou obter mais equidade? Alguns exemplos seriam: buscar remover vieses inconscientes do processo seletivo, trabalhar na promoção e retenção de pessoas diversas, agir de forma séria contra preconceitos e abusos dentro da empresa, ter lideranças diversas e inclusivas, ter suas instalações físicas preparada para todos tipos de corpos, preparar contratos de trabalho e benefícios que reconheçam as diferentes realidades e background das pessoas…
A partir do momento em que a Docway construir um ambiente onde pessoas diversas se sentirão felizes para trabalhar e seguras para conviver, com certeza cada vez mais pessoas diversas virão para a Docway.
PS: além de tudo que citei, obviamente a Docway pode trabalhar também diretamente com ONGs, projetos e instituições de ensino para trazer pessoas diversas diretamente para a Docway.
Há muitos especialistas que afirmam que equipes mais diversas são mais positivas para as empresas, pois possibilitam pontos de vista diferentes sobre um mesmo problema, criando assim soluções mais inovadoras e maiores possibilidades de superar obstáculos. Além desse benefício, o que mais uma empresa como a Docway pode colher promovendo a diversidade?
Podemos nos beneficiar de uma forma muito importante, e muitas vezes desvalorizada, ao trabalhar com diferentes pessoas: crescimento pessoal.
- Ao trabalhar lado a lado de uma pessoa de outro estado você aprende aspectos de uma cultura diferente;
- Ao trabalhar em um projeto com uma pessoa bem mais velha ou bem mais nova você sempre aprende algum macete novo;
- Ao ver pessoas de outras religiões você pode acabar com alguns preconceitos que tinha sobre determinado tema.
Todo esse ganho é pessoal de cada um que passa pela Docway, se transformando e transformando outras pessoas.
Com pessoas aprendendo umas com as outras, em uma empresa inclusiva e que promove a diversidade, podemos ter um ambiente de trabalho onde costumes tóxicos vão ficando cada vez mais mais raros, onde pessoas se sentem seguras, felizes etc.
Com isso, taxas de retenção podem subir, NPS pode melhorar, o próprio desempenho das pessoas pode melhorar. E todos os ganhos que você pode imaginar ao ter pessoas felizes trabalhando em um ambiente saudável e seguro.
Para a implementação de qualquer iniciativa, as lideranças são fundamentais para ecoar a mensagem que se quer transmitir. O que o Diversifica tem feito e o que mais ele pode fazer para engajar as lideranças e os liderados nessa iniciativa?
Já realizamos algumas conversas com as lideranças no começo do ano para falar sobre a importância deste projeto e de suas ações.
Assim, as lideranças se sentiram munidas de conhecimento para atuarem cada vez mais ativamente em suas equipes e objetivos, levando em conta a diversidade, inclusão e equidade.
Os consumidores estão cada vez mais atentos às ações que as empresas promovem e as bandeiras que as corporações levantam. O que você acredita que falta para a Docway e o que pode ser feito para aumentar o engajamento nessas causas e se comprometer verdadeiramente com esses discursos?
Primeiramente vale lembrar que promover um assunto ou levantar uma bandeira com o único objetivo de se obter engajamento é até mais prejudicial do que fazer nada.
Agora respondendo sua pergunta, ainda tem bastante chão para a Docway caminhar, de fato, mas conforme a Docway evolui nesse tema, investe mais tempo e busca ouvir mais outros corpos e outras realidades, o engajamento em certas lutas e causas, seja interna ou externamente, vai ser uma consequência natural de todo esse processo.
O “Mês do Orgulho” é muito mais que uma data ou festividade. É a lembrança que as conquistas alcançadas hoje foram fruto de muita luta e suor no passado e que há um longo caminho a ser percorrido. Como você define esse mês, as ações e o que mais podemos aprender com datas como essa?
Eu acredito que, principalmente para pessoas heterocisnormativas, mas também para pessoas da comunidade LGBT+, uma coisa que nunca falha para esta data é: ouvir
Facilmente esquecemos de ouvir e prestar atenção em certas coisas, então:
- Ouça com atenção as pessoas da comunidade estão reivindicando;
- Ouça pessoas de fora da sua bolha;
- Se proponha a ouvir ideias novas ou pessoas das quais você não concorda;
- E ouça a si mesmo, o que você está (re)produzindo, o teu corpo está pedindo, o que você tem vontade conquistar na vida.
E, claro, ouça novamente aquele discurso da Mary Griffith do filme ‘Orações para Bobby’: Discurso da mãe de Bobby (Orações para Bobby) Legendado
Gostamos de deixar um espaço aberto para nossos entrevistados se expressarem ao final da entrevista. O que você gostaria de falar para os seus colegas, lideranças ou até mesmo a mensagem que você gostaria de deixar para a sociedade como um todo?
Claro! Eu já me preparei pra isso. Gostaria de propor um desafio!
Você, pessoa que está consumindo esta entrevista, escolha uma data dentre os próximos dias e se programe para utilizar a Linguagem Inclusiva durante aquelas 24hrs.
Dicas:
- Não precisa se preocupar com a perfeição, basta buscar seguir, por apenas um único dia de trabalho seu, os conceitos da Linguagem Inclusiva;
- Se quiser pode até combinar com as pessoas da sua equipe ou com sua família para fazerem todas no mesmo dia;
- Caso ajude, coloque um post-it ou um alerta no celular de 30min em 30min para te lembrar de utilizar a Linguagem Inclusiva;
- Durante todo o dia escolhido, tente cumprir o desafio tanto no ambiente de trabalho quanto no pessoal.
Não vai nem precisar acabar as 24hrs e você vai notar o quanto você e as pessoas a sua volta reproduzem, sem perceber, certos preconceitos.
Acha difícil? É apenas falta de prática
Acha que vai ter que aprender novas palavras, como elu/delu? Não 😉
Acha que vai ficar difícil de se comunicar claramente? Eu fiz essa entrevista inteira utilizando linguagem inclusiva e aposto que você nem percebeu!
Conteúdo para Linguagem Inclusiva aqui. (a partir da página 9, tem 12 dicas rápidas para utilizar a linguagem inclusiva)
Reconhecer privilégios que existem e perpetuam em nossa sociedade é o primeiro passo para alcançarmos um mundo mais justo e igualitário.
Porém, não se pode parar por aí. É preciso continuar atento e resistir contra o preconceito e intolerância e se lembrar que ser humano é ser diverso e a celebração dessa consciência é capaz de mudar o mundo.
Gostou? Compartilhe com os colegas!
Até a próxima! 💚