Dados apontam maior taxa de desemprego e de sofrimento psicológico entre mães, que acumulam mais responsabilidades com a casa e com os filhos.
Já não era fácil ser mãe sem pandemia, imagine no meio de uma. Um estudo do Centro de Pesquisa Econômica e Social da Universidade do Sul da Califórnia, EUA, mostra que as mulheres são as mais prejudicadas pela pandemia — principalmente aquelas que são mães e não possuem graduação. Segundo os dados, elas sofreram mais perdas de emprego do que os homens e assumem mais responsabilidades em casa e com os filhos do que eles.
Conforme a pesquisa, cerca de 44% das mulheres relataram ser o único membro da família que prestava assistência aos filhos, em comparação com 14% dos homens.
Aqui no Brasil, de acordo com dados da pesquisa feita pela empresa Workana sobre mulheres e trabalho na pandemia, mesmo entre as que mantiveram seus cargos, 28% das mulheres foram acometidas por ansiedade, enquanto entre os homens a taxa ficou em 8,33%.
Para os especialistas, os índices explicitam vários fatores: em primeiro lugar, vivemos uma crise sanitária sem precedentes que atingiu vários setores da sociedade, e entre os mais afetados estão aqueles que empregavam mulheres em sua maioria, como restaurantes, eventos, turismo, causando uma onda de desemprego em massa. Junta-se a isso o fechamento das escolas e as ordens de distanciamento social, que dificultaram a ajuda de familiares, e a necessidade de atenção com as crianças, fechadas dentro de casa, aumentou.
Com isso, a situação de vulnerabilidade econômica e insegurança alimentar na qual grande parte das mães brasileiras já viviam se estendeu à outras camadas sociais, deixando grande parte das mulheres – responsáveis pela renda de metade das famílias no Brasil, ainda que ganhando menos que homens, segundo o IBGE – beirando o burnout: a estafa física e mental completa.
Mulheres à beira de um ataque de nervos
A sobrecarga de trabalho imposta à mulher, mãe ou não (embora se agrave substancialmente quando são mães), foi escancarada com essa pandemia. A desigualdade na divisão de tarefas domésticas é flagrantemente injusta, resultante do machismo estrutural de nossa sociedade, na qual o homem tem por bem achar que tarefas como manutenção da casa e cuidado com crianças, ou são menores ou então delegadas às mulheres.
Sem poder contar com ajuda externa (presença de avós, diaristas, babás familiares em geral), a mulher se viu dividida e sobrecarregada com tantas incumbências. Precisou dividir seu tempo entre cuidar da casa, dar atenção às crianças, sejam elas bebês ou mesmo aquelas em idade escolar, acompanhando nas aulas online, corresponder às demandas do trabalho (entre muitas videochamadas) e ainda manter o sorriso no rosto.
É preciso uma aldeia para cuidar de uma criança
Esta frase é um provérbio africano que passa a ideia de que cuidar de nossos pequenos seres humanos, aqueles que chamamos crianças, não é uma tarefa exclusiva da pessoa que a gera, mas da sociedade inteira que a cerca e influencia, e da qual essa criança vai fazer parte quando adulta.
E as mulheres que contavam com essa rede de apoio, agora se encontram sozinhas e solitárias nesta pandemia.
De acordo com um estudo realizado em maio pelo Institute for Fiscal Studies (Reino Unido), as mães são 47% mais propensas que os pais a perderem ou deixarem o emprego. Sem a rede de assistência para cuidar dos filhos, muitos casais precisaram escolher quem continuaria trabalhando – ou precisarão fazê-lo com a reabertura de escritórios sem a retomada total das escolas. A julgar pela diferença histórica de salários entre homens e mulheres, já dá para desconfiar qual carreira será sacrificada.
Especialistas receiam que as consequências negativas da pandemia na vida profissional de toda uma geração de mulheres sejam definitivas, causando um retrocesso em uma área que estava em pleno crescimento. Um relatório recente das Nações Unidas alertou que “mesmo os limitados ganhos obtidos nas últimas décadas correm o risco de serem revertidos”. Para mães-solo, a pressão é ainda mais intensa.
“Há uma divisão injusta do trabalho doméstico que rouba tempo da mulher”, afirma a publicitária Joanna Burigo, mestre em gênero, mídia e cultura pela London School of Economics (Reino Unido), à revista Crescer. “Um tempo que poderia ser investido na própria carreira.”
O que a quarentena parece ter deixado bem claro é que ninguém pode exigir mais nada das mães – ao contrário, precisamos oferecer apoio social coletivo, dentro das medidas possíveis de distanciamento. Precisamos pensar a família como rede de apoio e não ditar papéis em termos de gênero.
Para alguns especialistas, a presença dos homens em casa por conta da quarentena pode provocar mudanças profundas a longo prazo. Alguns apostam que boa parte desses homens vai poder finalmente compreender a demanda esmagadora das tarefas domésticas sobre as mulheres – e talvez se movimentem no sentido de assumir suas responsabilidades. De acordo com um estudo recente realizado pela Universidade de Northwestern (Estados Unidos), os pais que podem fazer home office fornecem cerca de 50% a mais de assistência infantil em comparação àqueles que não podem.
Mãe não tem que ser guerreira, ela só está sobrecarregada
No final, após a exposição de tantos dados substanciosos sobre como a desigualdade entre os papéis sociais é um assunto importante que deve ser tratado e sanado urgentemente, pois afeta diretamente nossa sociedade, fica aqui a reflexão do quanto a mulher precisa de apoio.
Não só prático nas questões do dia a dia, mas cuidado especializado para lidar com tanta pressão, expectativas, falta de tempo e suporte. Mães são guerreiras por falta de opção, pois precisam seguir em frente e cuidar de seus filhos. Quem cuida de quem cuida? Cuidar da saúde mental das mulheres na pandemia se tornou uma questão fundamental e responsabilidade de toda a sociedade.
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