O home office chega a afetar a saúde mental de 4 em cada 10 colaboradores.
Ao que parece, não tem muito jeito. Com os números da pandemia crescendo e sem perspectivas de voltarmos ao trabalho presencial, o trabalho remoto ou home office, como é comumente conhecido, está aí até segunda ordem.
Porém, o que em outros tempos poderia significar paz, sossego e conveniência para trabalhar acabou virando um pesadelo e um agravante para saúde mental de muitos funcionários. Sem material de trabalho adequado como assentos ergonômicos, apoio para pés e etc, além de oscilações de internet, dificuldade de comunicação entre colegas e chefes e com demais membros da família também isolados em casa, inclusive as crianças, o fato é que os limites entre trabalho, tarefas domésticas, momentos de lazer e com a família acabam ficando confusos e causando um grande sofrimento psicológico e físico nos funcionários.
Uma pesquisa realizada pela empresa Workana revelou o tamanho do problema pelos quais os funcionários estão passando. Segundo o levantamento, que entrevistou 2.810 funcionários em países das Américas e Europa – Brasil incluso –, 43,7% das pessoas disseram que o home office resultou em impactos psicológicos graves.
As mulheres, segundo a pesquisa, são as mais afetadas: 28% delas foram acometidas por ansiedade, enquanto entre os homens a taxa ficou em 8,33%. Segundo entrevistados, a mudança para trabalho remoto lhes rendeu instabilidades emocionais, que resultaram na necessidade de maior frequência no terapeuta. Criou-se uma relação de amor e ódio com o home office. Por um lado é muito prático, já que o trabalho presencial consome tempo com locomoção, mas por outro, o senso de imediatismo causou um impacto muito grande na saúde mental de todos, alongando a jornada de trabalho a uma eternidade, onde as pessoas praticamente não desligam e passam 24 horas “trabalhando”
Outra reclamação constante têm sido as dificuldades de concentração, especialmente no público feminino. Entre elas, 24% das entrevistadas relataram o efeito colateral, um pouco menos do que os 17,71% dos homens que responderam o mesmo.
Pandemia de desigualdades no trabalho remoto e no impacto da saúde mental
Na visão de especialistas que buscam entender a origem de tantos conflitos e transformações que afetam o mundo do trabalho e nossa sociedade como um todo, fica o alerta de que esse impacto na saúde mental não é fruto somente da mudança para o trabalho remoto, em um ambiente onde a separação entre o trabalho e a vida íntima não fica tão evidente.
O fato de estarmos vivendo uma pandemia de Covid 19 – uma doença ainda sem cura, importante lembrar – acaba resultando em ansiedade e medo de sermos infectados e perder entes queridos, causando instabilidade na rotina, irritabilidade, deixando as emoções à flor da pele e nos fazendo viver em estado de hipervigilância constante. Isso é, com toda certeza, o principal fator nessa mudança de comportamento, seja nas relações de trabalho como no trato social como um todo.
A questão das mulheres serem as mais afetadas nisso tudo também escancara uma desigualdade na divisão das tarefas domésticas e responsabilidades familiares, resultantes do machismo estrutural em nossa sociedade. O papel de cuidar das tarefas domésticas, alimentação, criação dos filhos fica, em sua maior parte, delegado às mulheres, resultando em um acúmulo injusto de tarefas e expectativas.
O fato de estarmos isolados também agrava bastante o quadro. Afinal, não estamos em casa por opção e sim, obrigação. Em outros tempos, passear para dar uma espairecida ajudava a aliviar os ânimos. Já hoje em dia, é preciso evitar aglomerações a todo custo, o que dificulta bastante o cenário.
Empresas podem minimizar o impacto
Erra quem pensa que as empresas não podem ajudar a aliviar esse quadro. A equação é simples: se funcionários estão com dificuldades no trabalho remoto, sejam elas quais forem, isso impacta diretamente no rendimento da empresa. Cabe aí um exercício de empatia e humanidade, ao perceber que vivemos tempos atípicos.
Uma das alternativas tem sido criar relações mais humanizadas, conforme explicitam os índices da pesquisa da Workana no Brasil. A relação entre empresas e funcionários precisa ser mais clara e orgânica – e muitos líderes já perceberam isso. Segundo o relatório do instituto de pesquisa, no pós-pandemia, 28,6% das empresas vão ter ações voltadas à flexibilidade de horários para que as pessoas tenham equilíbrio entre vida pessoal e profissional.
A falta de clareza na comunicação foi apontada por 11,8% dos entrevistados e é outro ruído comum na relação de trabalho remoto. Por conta disso, líderes que sejam solidários e conversem às claras com suas equipes são os que mais vão se destacar.
No dia a dia, estabelecer limites para jornada de trabalho, horários aceitáveis para envio de e-mails, mensagens de WhatsApp e cobranças já é um bom começo. Diminuir a necessidade de chamadas em vídeo, oferecer material adequado para trabalho como assentos, apoios para os pés, pagamento da conta de luz e internet, trocar o vale-refeição pelo alimentação e disponibilizar consulta com terapeutas online para funcionários já são ótimos passos para traçar uma convivência saudável entre empresas e colaboradores em tempos tão bicudos e incertos.
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